quarta-feira, 18 de abril de 2012

About life




Acho que todos temos um dia em que nos deixamos levar pela auto piedade. Mais do que um dia, na realidade.  Em que nos sentimos tentados a não levantar do sofá, a gastar o dia inteiro regados a lágrimas e chocolate, a não nos preocuparmos com mais ninguém ou nada no mundo, usando a justificativa que a vida não está lá essas coisas. As desculpas são mil: não passei no vestibular, o emprego está uma desgraça, a falta de emprego então..., problemas de relacionamento, problemas familiares... Enfim, tudo para entrar num clima "oh vida, oh céus...". E, pensando bem, é uma situação confortável. Quem não gosta de ter uma desculpa na manga para deixar a vida estacionada enquanto assiste a Sessão da Tarde com um balde de pipoca?
            Nem sempre a vida acontece da forma que planejamos. Frequentemente os planos, quando realizados, não eram bem como pensávamos. Não trazem o resultado esperado. A vida dá trabalho. O cotidiano é cansativo, os caminhos, as pessoas, a rotina. Problemas, reclamações, falta de reconhecimento. Olhando por esse prisma realmente é mais fácil nos entregarmos à auto piedade.
            Aqui, no entanto, há outra possibilidade: olharmos para o lado, vermos as árvores mudando de cor no outono, as mil tonalidades possíveis entre o verde e o marrom. Perceber as alterações nas flores, abrindo e fechando à medida que a vida evolui. Usar o intervalo para aproveitar um almoço delicioso, cheio de carinho, que dá uma super energia para levar adiante o dia. Ter uma conversa bacana com uma pessoa querida, escutá-la com atenção, perceber o valor de uma boa conversa. Ou passar o intervalo na companhia de um livro, tem companhia melhor? Quando chega o final do dia, ir para casa observando a luz linda que o sol nos oferece quando está se pondo. É o horário do dia em que a cidade mostra inúmeras belezas aos nossos olhos. Prestar atenção na cidade, no seu ritmo acelerado, em tudo que ignoramos diariamente e é tão lindo. Chegar em casa, um cheiro bom, um jantar gostoso, com pessoas queridas dispostas a conversar mesmo após um dia difícil, a sensação de "lar" que toma conta.
            A vida é isso, no final das contas. Não necessariamente uma carreira de sonhos glamourosa e momentos grandiosos constantemente. Woody Allen disse algo que achei sensacional: "Adoraria fazer um grande filme, desde que não atrapalhe minha reserva para o jantar". A vida são esses pequenos momentos, aparentemente insignificantes, que trazem alegria verdadeira. É uma reunião de gargalhadas inesperadas, o cheiro do bolo no forno, uma ligação de alguém com quem não conversamos há muito tempo. São as pessoas queridas, que diferença elas fazem!, as histórias, as cicatrizes. Lágrimas, dificuldades, alegrias inesperadas. Tudo isso faz parte de nós, nos transforma, nos fortalece. E o que fazer com tudo isso depende mais de nós do que de uma conspiração do universo para sermos felizes e bem sucedidos. Depende da nossa escolha entre o conforto da auto piedade e os riscos de tomar o passo inicial. 

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