segunda-feira, 2 de julho de 2012

Sobre unhas cheias de terra


Quando eu era criança meu vô me fez uma enxadinha, proporcional ao meu tamanho. Quando ele ia trabalhar na horta, eu ia junto. Aprendi a capinar e a mexer um pouco na terra. Aprendi a época de certas frutas, aprendi maneiras de adubar a terra, aprendi podemos colocar as cascas na terra, pois elas se transformam em adubo para o que será lá plantado. Junto com essas lições, vieram outras. Meu vô me ensinou a dar valor ao que a gente faz. É difícil de explicar a importância do que ele me ensinou. Li a seguinte frase de um chef, Alain Comount, no final de semana: "A forma de comer define a forma de viver.".Aprendi essa lição de várias maneiras na minha infância.



Lembro do vô colhendo as frutas de suas árvores, descascando calmamente e dividindo comigo. O vô foi quem me ensinou a gostar de figo e de caqui. Lembro da vó me "obrigando" a comer alface para que eu tivesse, no futuro, cabelo e pele bonitos. Lembro do vô colhendo cestas e cestas de laranjas, inúmeros sucos fresquíssimos fizeram parte dos meus almoços de criança (e de adulta também, fazemos isso sempre que possível). Aprendi com a vó e com a mãe quais temperos combinam com que comidas. Que o frango combina com sálvia, alecrim, cebola e alho poró. Já com a carne, alho e louro, talvez. No feijão e na lentilha, sálvia, louro, manjerona... Todos verdinhos, cheirosos, melhor ainda quando têm um pouquinho de terra, da horta em que foram colhidos. E agora aprendo com o pai a vantagem nutricional de cada um desses ingredientes.

Aprendi com o vô como é bom ter as unhas cheias de terra. De acompanhar a mudança das estações através da época de cada fruta, cada verdurinha, cada tempero. Como tudo se transforma, o que parece seco e sem vida no inverno ressurge majestoso na primavera, nos proporciona inúmeras frutas no verão. E aprendi com todos eles a aproveitar os pequenos prazeres cotidianos que a comida nos oferece, cada benefício e cada surpresinha inesperada quando há carinho envolvido em todo o processo.

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